segunda-feira, 11 de junho de 2012

Meu Próprio Negócio - Edição 110


Chapéu: Gestão – Estratégia

Caminho inverso

Negócios nascem no mundo virtual e agora investem também no ambiente físico




Por Thaís Paes


Diante da crescente tendência do consumidor em aderir à comodidade das compras on-line e da possibilidade de atender clientes nas mais diversas regiões do País com um único endereço – na web –, nos últimos anos, passou a ser comum, muitos empreendedores iniciarem seus negócios próprios com operação exclusiva no meio virtual. Essa opção acabou lhes permitindo o atendimento a uma demanda maior de clientes e a possibilidade de conhecer bem o perfil do público consumidor.  Agora, com seus negócios consolidados na internet, uma gestão mais madura, a experiência prática no segmento eleito e um bom conhecimento de seus clientes em potencial, muitos deles estão se dispondo a investir em pontos comerciais fixos, visando o fortalecimento da marca e a expansão de seu negócio. 

Entretanto, a iniciativa impõe novos desafios e adaptações ao negócio. Foi o que descobriu Tomás Dreyfuss, sócio diretor da Mundo Corrida, loja virtual especializada na venda tênis, vestuário, acessórios e outros artigos esportivos. Ele conta que ingressou nesse universo pois a empresa já trabalhava com revistas e portais esportivos, atuavam no mercado de feiras esportivas e de formação de profissionais do esporte e promoviam eventos ligados a corrida de rua, ciclismo, natação, triathlon e fitness. Com a atividade, Dreyfuss atestou o quanto o nicho poderia ser promissor e decidiu se valer dos conhecimentos, contatos e clientes na área, já conquistado por sua marca, para ingressar no varejo on-line. Assim, em fevereiro de 2010, ele colocou no ar a loja virtual Mundo Corrida.

Dreyfuss conta que investiu muito pouco para abrir o e-commerce. Foram somente R$ 5 mil para utilizar a plataforma e contratar a empresa que customizou o site, processo que durou dois meses.
Com o sucesso das vendas pelo site de produtos como tênis, vestuário e acessórios esportivos, a meta passou a ser mais ambiciosa: proporcionar ao consumidor uma experiência mais completa na hora da compra. Para isso, havia a necessidade de expandir a marca abrindo lojas físicas.

Com investimentos da própria empresa, a Mundo Corrida ganhou duas lojas de uma única vez, uma em São Paulo (SP) e outra no Rio de Janeiro (RJ). Dreyfuss explica que toda essa operação surgiu com investimento próprio, sem empréstimos pois a empresa tem receio de se endividar para crescer. Atualmente, além do comércio eletrônico e dessas duas unidade, a Mundo Corrida possui mais duas lojas físicas localizadas em grandes centros comerciais: Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF).

Segundo Dreyfuss, apesar do investimento inicial da on-line ter sido bem inferior ao da física, a longo prazo, para se manter as duas, a virtual acaba sendo mais custosa. “Muita gente acha que para se ter uma loja on-line só é preciso ter um computador em casa. Entretanto, isso não é verdade, é necessário desenvolver um sistema de controle de qualidade, além de muitos cuidados com a armazenagem e a logística. Não é tão simples”.

Os principais desafios enfrentados no início da loja on-line foram o atendimento ao cliente e o processo de logística. “Você tem que se preocupar em fazer o produto chegar na casa do cliente no menor tempo possível”. Já nas lojas físicas uma das partes mais complexas é a escolha do ponto comercial – um processo demorado, que exige muita pesquisa. “Pelo fato da sede da empresa ser de São Paulo, esse foi o ponto comercial mais fácil de escolher, pois tínhamos uma ideia mais clara de locais movimentados. Porém, nas outras capitais, essa escolha foi mais complicada e exigiu mais pesquisas. Chegamos até a passar longos períodos em cafés próximos aos pontos eleitos para confirmar se realmente o local era promissor para receber a loja”, lembra.

Vantagens da loja física

O empresário explica que no caso dos tênis comercializados pela marca, muitos consumidores tinham a necessidade de ver e experimentar antes de comprar, assim como ter um contato com os vendedores, para tirar dúvidas sobre os benefícios do item. “Alguns de nossos produtos não são baratos. Para um tênis de R$ 500, por exemplo, é natural o consumidor ter a necessidade de uma avaliação mais criteriosa antes de ter certeza da compra”, diz.

Para ele, a cronologia das iniciativas fez com que um comércio impulsionasse o outro. “Conforme as lojas físicas foram sendo abertas, passamos a ter mais vendas on-line vindas de cada uma das regiões”. O fato de o cliente passar a ter a oportunidade de poder pegar o tênis que quer comprar ou a peça de vestuário ajudou muito nas vendas. Tanto que esses dois itens eram os mais difíceis de vender pela internet. Depois da abertura das lojas físicas, muitos clientes passaram a acessar a loja virtual já sabendo o que querem comprar, conhecendo a marca pela loja ou por recomendação de algum amigo. Agora, o consumidor não fica mais pesquisando tanto, ele já sabe o que vai comprar.

Para atender a essas expectativas, a Mundo Corrida implantou um diferencial importante: seus vendedores são todos profissionais de educação física, assegurando um atendimento especial para o cliente. Com isso, a empresa garantiu um ticket médio maior para as vendas off-line.

Na avaliação de Dreyfuss, o fato da empresa ter ingressado no varejo primeiro com uma loja virtual, permitiu a construção da marca com rapidez e a evidência do nome no segmento acabou facilitando as operações da loja física. “Com essa experiência pudemos ter uma ideia do mix de produtos que mais saíam e ticket médio, por exemplo, assim como ter uma visão mais ampla sobre o nosso púbico. Pudemos determinar o perfil geral dos clientes, faixa etária, marca que eles mais compram, perfil de navegação, uma infinidade de informações importantes, que foram fundamentais para o sucesso das lojas físicas”.

Para incrementar a divulgação da loja virtual, o empresário utilizou, principalmente, as mídias digitais, a exemplo de banners em portais relacionados a corrida, mas também marcou presença com anúncios em veículos especializados na área. Já para promover as lojas físicas, a principal estratégia de marketing foi patrocinar eventos e corridas de rua. Nessas ocasiões eram distribuídos kits aos participantes para serem retirados nas lojas. Ou então distribuíam cupons de descontos e promoções especiais, incentivando os presentes a conhecerem a loja e adquirir algum de seus produtos.

Segundo Dreyfuss, existem estatísticas que mostram que o número de usuários brasileiros da internet que consomem de forma on-line ainda é pequeno se comparado a outros países. O que ainda dificulta esse crescimento é a desconfiança dos consumidores para fornecer dados do cartão de crédito na web, além de dúvidas quanto ao prazo e recebimento das mercadorias. Isso sem falar que existem diversos problemas de fraudes no país. Porém, o empresário diz que o mercado vem amadurecendo cada vez mais nesses pontos. Tanto é que, aproximadamente após um ano da abertura da loja virtual o investimento foi recuperado.

Quanto às expectativas do negócio, de início, a estimativa é que haja um crescimento de pelo menos 23%, mas, com o tempo, o aumento deve ser muito mais acelerado e agressivo. “Com o advento da internet, esse mundo do varejo vem crescendo muito rápido. Se não é você que cresce, será seu concorrente”, sentencia.

De loja virtual a franquia

Outro endereço virtual que ganhou ponto comercial físico e agora já estuda a possibilidade de formatar o negócio no sistema de franquia é a Meu Amigo Pet, uma loja virtual criada em 2005, que acabou tornando-se referência no setor de vendas de produtos para animais.

A Meu Amigo Pet nasceu para atender um mercado que, apesar de gigante, era bastante desorganizado. Esse cenário facilitou o crescimento da marca e, com isso, veio a necessidade que abrir uma loja física, atendendo a pedidos dos próprios clientes e certos de que a inauguração de um ponto comercial seria muito positivo para a credibilidade da marca. A vantagem de ter começado como e-commerce é que, por essa plataforma, é possível pesquisar mais sobre o seu público, saber como ele chegou até o site, quando foi a última vez que comprou, a idade de cada um e montar uma métrica para fazer esse tipo de análise.

Segundo Daniel Nepomuceno, CEO da empresa, entre as principais iniciativas para fomentar as vendas on-line estão: a descrição do produto, a avaliação de outros consumidores e o fato de a loja possuir, ou não, loja física, o que aumenta, e muito, a credibilidade da marca.

Em dezembro de 2011, a empresa decidiu abrir uma pet shop no Shopping Eldorado, em São Paulo (SP) e apostar que a proximidade com os clientes poderia ser uma iniciativa promissora para o negócio. “Deu certo”, informa Daniel Nepomuceno, CEO da empresa, adiantando que, além do projeto de franquia, a marca pretende abrir outras lojas físicas.

Nepomuceno conta que o investimento inicial para a abertura da loja física foi de R$ 500 mil e no mesmo período mais R$ 2 milhões foram aplicados para expandir e melhorar o e-commerce, de forma continuar operando mesmo durante os três meses que exigiu todo o processo. Agora, tendo os dois canais de venda, a meta é dobrar de tamanho.

Diferente da experiência da Mundo Corrida, no caso da Meu Amigo Pet, considerando que o volume investido visava manter dois diferentes canais de venda, Nepomuceno avalia que os custos da loja física são menores, se comparada à on-line. Ela se paga muito mais rápido e o próprio fluxo do shopping a alimenta. Já na on-line é necessário estar sempre investindo em comunicação.

O principal desafio enfrentado para a abertura da loja virtual foi fazer com que os consumidores se habituassem às compras on-line, pois muita gente ainda não conhece essa facilidade ou não tem o hábito de comprar direto pela internet.

Na opinião de Nepomuceno, o público da loja on-line é o mesmo que o da loja física, sendo que a maioria dos consumidores atuais é multicanal – compram tanto pela internet quanto pessoalmente. Porém, dificilmente a loja virtual vai substituir a necessidade de ter o contato com o produto que a física oferece.

Para a escolha do ponto comercial, a empresa visitou diversos lugares que poderiam ser interessantes, mas, acabaram optando por adquirir um pet shop que já existia e reformá-lo. A vantagem foi que já havia um público que sabia da existência de um pet naquele local o que facilitou mantê-los como clientes.

Se a loja no shopping dispensou a necessidade de grandes gastos com divulgação, a on-line exigiu em dobro. Para promover o e-commerce, a marca apostou em veicular banners e anúncios em mídias digitais, após pesquisar quais seriam os principais sites procurados pelos consumidores.

Mercado previamente testado

Fundada em 2006, a ShopFisio é uma empresa especializada em vender pela internet equipamentos ortopédicos e produtos para estética. A definição desse modelo de negócio levou em consideração o menor investimento inicial, especialmente com relação aos custos fixos, e a maior abrangência geográfica que a loja virtual oferece. Além da oportunidade de entrar em um mercado novo.

Segundo Luiz Felipe Veronez, gerente de marketing, na época, foram investidos aproximadamente R$ 50 mil para colocar o site no ar. “O lançamento demorou seis meses mas não foi um processo complicado, diz o gerente. Na época, era mais fácil abrir uma loja virtual por ser um mercado novo, ainda em fase de amadurecimento.“Hoje, é mais difícil. O mercado tem mais regulamentações e regras para o negócio junto com órgãos competentes”, avalia Veronez.

Porém o negócio prosperou e, há dois anos, com seu amadurecimento, a estratégia foi abrir também um balcão de vendas diretas ao consumidor. O fato de terem começado com a loja on-line trouxe diversos benefícios para a ShopFisio. Primeiro permitiu que atingissem uma abrangência territorial maior, dispusessem de opções de publicidade e propaganda mais barata e eficiente e obtivessem maior conhecimento sobre o público-alvo e a aceitação dos produtos no mercado. “Na loja on-line fica mais fácil 'testar' o seu mercado. A começar pela simplicidade para se alterar a vitrine on-line, que não exige custo e dá muito menos trabalho do que uma loja física.”

Quanto ao marketing digital ser usado também para promover as lojas físicas, o gerente assegura que as mesmas ações de e-mails marketing, banner em sites, parcerias e um trabalho por mídias off-line funcionam bem tanto para as vendas virtuais quanto reais.

Para Veronez, à medida que a empresa vai crescendo é interessante que sejam desenvolvidos novos canais de vendas. Atualmente, 60% dos equipamentos são vendidos diretamente na on-line. Porém, o fato de possuírem essas vendas virtuais tem uma influência direta nas compras off-lines.

O principal desafio enfrentado para abrir o comércio eletrônico foi primeiro a escolha de um bom sistema para suportar as operações comerciais com prazos e estruturas e, depois, assegurar credibilidade à marca. Já na física, é atingir um público maior, tarefa mais simples para a loja on-line. Em compensação, no universo virtual o cliente é mais exigente. Para começar, geralmente ele conhece melhor o que está comprando, procura preço atraente, muita qualidade, fretes econômicos e entrega rápida. Outro ponto que dificulta a operação on-line é o fato dela trabalhar com portfólio bem maior de produtos.


Colaboraram:
Mundo Corrida -  www.mundocorrida.com.br – Tel: (11) 3052-2613
Meu Amigo Pet -  www.meuamigopet.com.br – Tel: (11) 3277-2841
ShopFisio - www.shopfisio.com.br – Tel:(19) 3361-6000

Revista Meu Próprio Negócio - Edição 110 - Pág. 38
Abril / 2012

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