Ganhe dinheiro na balada
Baixo investimento e boas oportunidades de ganho fazem da atividade de DJs uma opção atraente. Porém, se os equipamentos estão mais acessíveis e simples de manusear, a alternativa ainda exige sinergia com o público e feeling para a música
Por Thaís Pepe Paes
Da época das discotecas, nos anos 1970, para cá, a atividade
de DJ ganhou tecnologia, cada vez mais acessível e simples de operar, status de
artista e, apesar de ainda não ser regulamentada, está prevista na lei de
Empreendedor Individual.
O vinil ainda marca a performance de muitos DJs, mas abre
espaço para cds, softwares, pendrive
e até vídeo, os VJs. Para dispor de uma boa carrapeta (mesa de som) não é mais
necessário tantos reais. ”Hoje, com R$ 2 mil é possível iniciar o negócio”, diz
o DJ Filippo, há 15 anos no mercado.
Ele é especializado em festas fechadas e toca de tudo, mas costuma puxar mais para o estilo House Music. Seu interesse pela área veio cedo, com apenas 15 anos
ele arrumou um emprego para trabalhar como operador e locutor de rádio. Foi
nessa época que Filippo desenvolveu o interesse pela música e aprendeu a tocar
observando os DJs da equipe. Logo depois de um ano, já começou a fazer festas
abertas em boates até que, aos poucos, foi sendo convidado a participar de
festas fechadas do Rio de Janeiro (RJ), a maioria de debutantes.
O DJ recorda que, no início de sua carreira, foi difícil
adquirir os equipamentos necessários para atuar, pois, na época, eles eram
caros e bem mais difíceis de se encontrar do que hoje. Isso, sem falar que antes
da internet, o acesso a novas músicas era extremamente complicado.
Filippo explica que existem dois segmentos de DJs, o de
festas fechadas, que costuma também agregar serviços de som e luz, e o DJ de
boates e eventos abertos ao público, que costuma tocar somente um estilo de
música. No caso de eventos abertos, como boates ou festivais de
música eletrônica, o DJ só precisa do repertório pois a estrutura de som e luz
normalmente é contratada por fora, de outras empresas.
No ramo de festas fechadas existem também dois grandes
mercados, os aniversários de 15 anos e os casamentos. Pelo fato de os
casamentos serem festas familiares, é necessário ter um certo cuidado para
agradar a todos. Por isso é imprescindível que aconteça uma reunião antes do evento para decidirem sobre o tipo de
música que deve ser tocada. “Existem noivos que curtem sons mais puxados para
música eletrônica, outros preferem músicas no estilo flashbacks, e por aí vai. Já as festas de debutante, normalmente,
são voltados para a aniversariante e seus amigos, a família não costuma ser
muito bem-vinda na pista. Então, deve ser tocado o que essa galera curte, que
é, em geral, House, Pop, Hip-hop
e até alguns funks”.
Para quem quer começar na área, Filippo estima que seja
necessário um investimento de R$ 2 mil somente para tocar, sem
agregar outros serviços. Já se o iniciante quiser montar uma estrutura de som e
luz básica, o investimento vai ficar em torno de R$ 5 mil a R$ 10 mil.
Quando questionado sobre as facilidades que o avanço da
tecnologia trouxe para a profissão, ele afirma: “Antigamente eu levava pastas e
mais pastas de CDs. Hoje em dia eu faço uma festa inteira utilizando apenas
dois pendrives. Meu repertório vai no
meu bolso. Já na iluminação, a mudança está na possibilidade infinitamente
maior de movimentos, cenas, efeitos e na evolução dos lasers. Além disso, grande parte dos equipamentos está sendo
substituída por tecnologia leds, que
gera uma luz mais bonita consumindo, em média, 75% menos energia”.
Segundo
o DJ, qualquer pessoa pode exercer a atividade, mas, para ser um bom
profissional é necessário feeling. “Ser DJ não é
somente ter equipamentos e músicas, tem que ter o talento para fazer as
mixagens e, principalmente, o feeling para ‘entrar na cabeça das pessoas’
e descobrir o que elas querem ouvir. Além de saber administrar as músicas ao
longo da noite de forma que a pista não pare”.
Atualmente,
ele faz em média seis festas por mês e os valores de cada uma são cobrados de acordo com o local do evento e o número de convidados. Por exemplo,
uma festa de 200 a 600 convidados pode custar de R$ 6 mil a R$ 17 mil, variando
de acordo com a estrutura contratada. “Não existe uma tabela, monto um projeto
personalizado para aquele evento calculando sistema de som, iluminação,
plasmas, etc. Mas também trabalho com pacote básico para aniversários em
residência, que fica em torno de R$ 2,5 mil”. O pagamento é feito sempre com sinal
de 50% para a reserva da data.
Além de atuar como DJ, Filippo está abrindo uma produtora
de foto e vídeo com uma proposta mais moderna para as festas. A ideia surgiu quando ele
começou a pesquisar produtores para fazerem os chamados pocket-videos (que são vídeos com os
melhores momentos da festa) e pediu também para que seus clientes enviassem para
ele os DVDs de suas festas. Para sua surpresa, não gostou da maioria dos que
viu. “Eles não passavam a real impressão de como o evento foi bom. Tinham
edições fracas, cortes mal feitos, efeitos cafonas e por aí vai. Foi quando
percebi que dava para fazer melhor. Muitos profissionais que estão nesse
mercado há décadas pararam no tempo no que diz respeito à edição de vídeo. Então,
pensei em além de fazer os pocket-vídeos,
investir no serviço completo com entrega em DVD ou Blu-Ray”
Identidade musical como diferencial
Figura conhecida no meio artístico, o DJ Matheus Puertas
está há oito anos no mercado. Especializado no estilo MPB, ele atua principalmente
no Rio de Janeiro (RJ), mas já atendeu diversas cidades como Brasília (DF),
Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), entre outras. Ele foca um público bem
específico e costuma mesclar diferentes músicas mas sem se focar nos mega
sucessos e músicas muito populares. Puertas trabalha em
geral com festas abertas e quando recebe convite para fazer festa com um
público muito diferente do seu segmento, como festas de debutante ou
casamentos, prefere declinar para não comprometer a qualidade do trabalho.
Puertas começou a se interessar pela área quando criança,
cresceu em um ambiente musical e gostava de divertir as pessoas. Com 15 anos,
nas festas familiares já ficava analisando como poderia animar os convidados.
“Nessa época eu ainda não tinha equipamentos, então eu pegava todos os aparelhos
de som que tinha na minha casa, colocava um do lado do outro e ia colocando as
músicas em cada rádio na sequência”.
Com 19 anos, ele começou a estagiar na rádio MPB FM e a
aproximação com esse tipo de música e com o trabalho dos DJs da rádio, fizeram
com que se interessasse ainda mais pela área. Aos poucos, foi observando e
aprendendo, mas, somente em 2011, acabou investindo em um curso de
aperfeiçoamento.
Seus primeiros clientes vieram da própria emissora onde
trabalhava. Depois, já com mais experiência, começou a fazer festa para os
amigos. Para ele, a melhor forma de divulgação é boca a boca. “Uma pessoa faz
uma festa, gosta e indica para outra e assim vai. Tudo atrelado a rede de
amigos, sendo que uma festa vai puxando a outra. Normalmente, pessoas que
curtem determinado tipo de música frequentam ambientes e conhecem pessoas com
os mesmo gostos. Isso facilita a divulgação”.
Puertas conta que o principal desafio enfrentado no início
da carreira de um DJ é o de se manter somente com os cachês. No começo, o
iniciante ainda não é conhecido e muitas vezes não consegue trabalho em todos
os fins de semana. Por isso, alguns optam por ter outra atividade durante o
dia. Hoje, mesmo depois de oito anos, o DJ faz dupla jornada. Além de trabalhar
na noite, ele ainda é produtor do centro cultural Baukurs Cultura e afirma que esse segundo emprego o ajuda a fortalecer
a atividade de DJ por estar constantemente em contato com o meio cultural.
Ele conta que o segredo para mandar bem em uma festa consiste
em saber quem está na plateia e o tempo certo de tocar cada música. “Um bom DJ
não pode soltar um grande hit à meia noite, ele deve esperar para tocar ele lá
pelas 3h30 da amanhã. Ele tem que saber qual é o momento certo para cada tipo
de música. E o DJ também tem que interagir com a galera e ser alegre. Se for
uma pessoa que fica só apertando os botões, ele vira um Ipod humano e não é esse o objetivo”. Puertas acredita que para encontrar o tipo de música certa para agitar a galera é necessário
analisar o perfil do público de cada festa para acertar no repertório. Por
exemplo, avaliar a forma como dançam, como se vestem, faixa etária, entre
outros pontos. “Eu mesmo às vezes desço na pista para ver o que
está rolando, sentir como está o público e acertar na próxima música”.
Outro ponto colocado por Puertas é o preconceito com relação
à profissão. “Algumas pessoas acham que ser DJ é só lazer. É só ir para as festas,
beber e curtir. Há quem enxergue a atividade como uma área que não dá dinheiro
e que não é profissional. Mas não é assim. É claro que é um trabalho mais
descontraído, mas nem por isso deixa de ser trabalho, e com as mesmas
responsabilidades do que qualquer outro”.
Segundo ele, a principal dica para quem está começando é
consumir muita música diariamente, isso ajuda a compor um repertório legal, e desenvolver
um estilo próprio de identidade musical. “Hoje, você tem que
ser específico e atingir um determinado segmento, do contrário, não tem mercado.
A concorrência é grande e atualmente com dois pendrives se faz uma festa”.
O DJ ainda recomenda evitar excessos para conseguir trocar o
dia pela noite, como beber somente no fim da festa e minimizar o tempo que fica
na noite. “Antigamente um mesmo DJ abria e fechava a casa, então ele ficava a
festa toda e só saia quando todos os convidados já tinham ido embora. Hoje, os
DJs tem hora certa para começar e terminar o evento, então, é aconselhável
chegar uma meia hora antes e não demorar muito para ir embora para poder
aguentar firme nas outras noites”.
Tecnologia a favor dos DJs
Com quase 20 anos de carreira,
o DJ carioca Duda Santos é outro que aposta na
House Music e suas vertentes, misturando electro, progressive house,
tribal e tech house na busca do
melhor som para elevar a vibe de
qualquer pista ao máximo.
Logo no começo da carreira,
Santos não encarava a profissão da mesma forma como encara hoje, só ao longo do
tempo que decidiu ser DJ profissional. Na época em que entrou para o mercado, o
único formato de mídia usado eram os discos em vinil, que na grande maioria das
vezes eram importados. “Até hoje os melhores equipamentos para a atividade são
importados e caros, mas a tecnologia trouxe facilidades e fez a atividade
deixar de ser completamente artesanal. Com um laptop e uma placa de som já é possível começar a se aventurar”.
Segundo Santos, alguns
profissionais defendem que a tecnologia banalizou a profissão, pois já não se
precisa da enorme quantidade de horas de treino com vinil, que eram bem
difíceis de manusear, para atuar como DJ.
“Isso abriu espaço para alguns ‘fake
djs’, ou gente sem o menor talento, que só consegue trabalhar com a ajuda
dos softwares. Eu ainda acredito que, mesmo com todo o recurso tecnológico, é
com talento que se supera a concorrência”.
Outra mudança que a
tecnologia trouxe foi o fomento do boca a boca. “Com o advento da internet a
divulgação se tornou muito mais fácil. Hoje você publica na web um set,
sequência de músicas de sua escolha, e começa o marketing viral. Um amigo gosta
e manda para outro, que posta no facebook,
que comenta no twitter e a coisa
segue seu caminho. Para os que querem mesmo entrar no mercado é importante
saber que o marketing pessoal é imprescindível para o sucesso na carreira de DJ”.
Assim como Puertas, Santos
também reconhece que a atividade enfrenta preconceito e diz que ainda escuta
frases como: “Você é DJ? Que legal. E trabalha com o que?. A maioria das
pessoas não tem ideia da quantidade de horas de treino, pesquisa musical,
organização de repertório e tantas outras demandas são necessárias ser
dominadas por um profissional da área”. Para ele a apresentação em si é apenas
20% do trabalho, muita coisa acontece antes de subir no palco e tocar as
músicas. Mas como a atividade envolve músicas e festas, existe a falsa ideia de
que não é trabalho, é só divertimento.
Para assegurar sua
performance, Santos investiu em vários cursos ao longo de sua carreira, que
foram essenciais para se tornasse um DJ profissional e sugere para os
iniciantes que pensam em atuar no circuito de boates, se qualificar para manusear
os tipos de equipamentos que essas casas oferecem. Nesse ponto os cursos podem
ajudar muito”. Ele também recomenda que o profissional esteja sempre atualizado.
“O upgrade é necessário hoje em dia,
pois sempre surgem novos equipamentos e é preciso acompanhar a evolução”.
Quando questionado sobre a
situação do mercado da música ele afirma: “Alguns profissionais diriam que está
ficando saturado, pois de um tempo pra cá todos resolveram se tornar DJs, de
colegiais a ex-BBBs. Mas eu acredito que só quem tem talento e amor à profissão
sobrevive nesse mercado”.
Colaboraram:
DJ Filippo, (21) 2226-3021, www.filippodj.com.br; DJ Matheus
Puertas, (21) 7675-7307, facebook: Matheus Puertas
e DJ Duda Santos, http://djdudasantos.blogspot.com.
Revista Meu Próprio Negócio - Edição 111 - Pág. 60
Maio / 2012
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