segunda-feira, 11 de junho de 2012

Meu Próprio Negócio - Edição 111


Ganhe dinheiro na balada
Baixo investimento e boas oportunidades de ganho fazem da atividade de DJs uma opção atraente. Porém, se os equipamentos estão mais acessíveis e simples de manusear, a alternativa ainda exige sinergia com o público e feeling para a música






Por Thaís Pepe Paes

Da época das discotecas, nos anos 1970, para cá, a atividade de DJ ganhou tecnologia, cada vez mais acessível e simples de operar, status de artista e, apesar de ainda não ser regulamentada, está prevista na lei de Empreendedor Individual.

O vinil ainda marca a performance de muitos DJs, mas abre espaço para cds, softwares, pendrive e até vídeo, os VJs. Para dispor de uma boa carrapeta (mesa de som) não é mais necessário tantos reais. ”Hoje, com R$ 2 mil é possível iniciar o negócio”, diz o DJ Filippo, há 15 anos no mercado.

Ele é especializado em festas fechadas e toca de tudo, mas costuma puxar mais para o estilo House Music. Seu interesse pela área veio cedo, com apenas 15 anos ele arrumou um emprego para trabalhar como operador e locutor de rádio. Foi nessa época que Filippo desenvolveu o interesse pela música e aprendeu a tocar observando os DJs da equipe. Logo depois de um ano, já começou a fazer festas abertas em boates até que, aos poucos, foi sendo convidado a participar de festas fechadas do Rio de Janeiro (RJ), a maioria de debutantes.

O DJ recorda que, no início de sua carreira, foi difícil adquirir os equipamentos necessários para atuar, pois, na época, eles eram caros e bem mais difíceis de se encontrar do que hoje. Isso, sem falar que antes da internet, o acesso a novas músicas era extremamente complicado.

Filippo explica que existem dois segmentos de DJs, o de festas fechadas, que costuma também agregar serviços de som e luz, e o DJ de boates e eventos abertos ao público, que costuma tocar somente um estilo de música. No caso de eventos abertos, como boates ou festivais de música eletrônica, o DJ só precisa do repertório pois a estrutura de som e luz normalmente é contratada por fora, de outras empresas.

No ramo de festas fechadas existem também dois grandes mercados, os aniversários de 15 anos e os casamentos. Pelo fato de os casamentos serem festas familiares, é necessário ter um certo cuidado para agradar a todos. Por isso é imprescindível que aconteça uma reunião antes do evento para decidirem sobre o tipo de música que deve ser tocada. “Existem noivos que curtem sons mais puxados para música eletrônica, outros preferem músicas no estilo flashbacks, e por aí vai. Já as festas de debutante, normalmente, são voltados para a aniversariante e seus amigos, a família não costuma ser muito bem-vinda na pista. Então, deve ser tocado o que essa galera curte, que é, em geral, House, Pop, Hip-hop e até alguns funks”.

Para quem quer começar na área, Filippo estima que seja necessário um investimento de R$ 2 mil somente para tocar, sem agregar outros serviços. Já se o iniciante quiser montar uma estrutura de som e luz básica, o investimento vai ficar em torno de R$ 5 mil a R$ 10 mil.

Quando questionado sobre as facilidades que o avanço da tecnologia trouxe para a profissão, ele afirma: “Antigamente eu levava pastas e mais pastas de CDs. Hoje em dia eu faço uma festa inteira utilizando apenas dois pendrives. Meu repertório vai no meu bolso. Já na iluminação, a mudança está na possibilidade infinitamente maior de movimentos, cenas, efeitos e na evolução dos lasers. Além disso, grande parte dos equipamentos está sendo substituída por tecnologia leds, que gera uma luz mais bonita consumindo, em média, 75% menos energia”.

Segundo o DJ, qualquer pessoa pode exercer a atividade, mas, para ser um bom profissional é necessário feeling. “Ser DJ não é somente ter equipamentos e músicas, tem que ter o talento para fazer as mixagens e, principalmente, o feeling para ‘entrar na cabeça das pessoas’ e descobrir o que elas querem ouvir. Além de saber administrar as músicas ao longo da noite de forma que a pista não pare”.

Atualmente, ele faz em média seis festas por mês e os valores de cada uma são cobrados de acordo com o local do evento e o número de convidados. Por exemplo, uma festa de 200 a 600 convidados pode custar de R$ 6 mil a R$ 17 mil, variando de acordo com a estrutura contratada. “Não existe uma tabela, monto um projeto personalizado para aquele evento calculando sistema de som, iluminação, plasmas, etc. Mas também trabalho com pacote básico para aniversários em residência, que fica em torno de R$ 2,5 mil”. O pagamento é feito sempre com sinal de 50% para a reserva da data.

Além de atuar como DJ, Filippo está abrindo uma produtora de foto e vídeo com uma proposta mais moderna para as festas. A ideia surgiu quando ele começou a pesquisar produtores para fazerem os chamados pocket-videos (que são vídeos com os melhores momentos da festa) e pediu também para que seus clientes enviassem para ele os DVDs de suas festas. Para sua surpresa, não gostou da maioria dos que viu. “Eles não passavam a real impressão de como o evento foi bom. Tinham edições fracas, cortes mal feitos, efeitos cafonas e por aí vai. Foi quando percebi que dava para fazer melhor. Muitos profissionais que estão nesse mercado há décadas pararam no tempo no que diz respeito à edição de vídeo. Então, pensei em além de fazer os pocket-vídeos, investir no serviço completo com entrega em DVD ou Blu-Ray

Identidade musical como diferencial

Figura conhecida no meio artístico, o DJ Matheus Puertas está há oito anos no mercado. Especializado no estilo MPB, ele atua principalmente no Rio de Janeiro (RJ), mas já atendeu diversas cidades como Brasília (DF), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), entre outras. Ele foca um público bem específico e costuma mesclar diferentes músicas mas sem se focar nos mega sucessos e músicas muito populares. Puertas trabalha em geral com festas abertas e quando recebe convite para fazer festa com um público muito diferente do seu segmento, como festas de debutante ou casamentos, prefere declinar para não comprometer a qualidade do trabalho.

Puertas começou a se interessar pela área quando criança, cresceu em um ambiente musical e gostava de divertir as pessoas. Com 15 anos, nas festas familiares já ficava analisando como poderia animar os convidados. “Nessa época eu ainda não tinha equipamentos, então eu pegava todos os aparelhos de som que tinha na minha casa, colocava um do lado do outro e ia colocando as músicas em cada rádio na sequência”.

Com 19 anos, ele começou a estagiar na rádio MPB FM e a aproximação com esse tipo de música e com o trabalho dos DJs da rádio, fizeram com que se interessasse ainda mais pela área. Aos poucos, foi observando e aprendendo, mas, somente em 2011, acabou investindo em um curso de aperfeiçoamento.

Seus primeiros clientes vieram da própria emissora onde trabalhava. Depois, já com mais experiência, começou a fazer festa para os amigos. Para ele, a melhor forma de divulgação é boca a boca. “Uma pessoa faz uma festa, gosta e indica para outra e assim vai. Tudo atrelado a rede de amigos, sendo que uma festa vai puxando a outra. Normalmente, pessoas que curtem determinado tipo de música frequentam ambientes e conhecem pessoas com os mesmo gostos. Isso facilita a divulgação”.

Puertas conta que o principal desafio enfrentado no início da carreira de um DJ é o de se manter somente com os cachês. No começo, o iniciante ainda não é conhecido e muitas vezes não consegue trabalho em todos os fins de semana. Por isso, alguns optam por ter outra atividade durante o dia. Hoje, mesmo depois de oito anos, o DJ faz dupla jornada. Além de trabalhar na noite, ele ainda é produtor do centro cultural Baukurs Cultura e afirma que esse segundo emprego o ajuda a fortalecer a atividade de DJ por estar constantemente em contato com o meio cultural.

Ele conta que o segredo para mandar bem em uma festa consiste em saber quem está na plateia e o tempo certo de tocar cada música. “Um bom DJ não pode soltar um grande hit à meia noite, ele deve esperar para tocar ele lá pelas 3h30 da amanhã. Ele tem que saber qual é o momento certo para cada tipo de música. E o DJ também tem que interagir com a galera e ser alegre. Se for uma pessoa que fica só apertando os botões, ele vira um Ipod humano e não é esse o objetivo”. Puertas acredita que para encontrar o tipo de música certa para agitar a galera é necessário analisar o perfil do público de cada festa para acertar no repertório. Por exemplo, avaliar a forma como dançam, como se vestem, faixa etária, entre outros pontos. “Eu mesmo às vezes desço na pista para ver o que está rolando, sentir como está o público e acertar na próxima música”.

Outro ponto colocado por Puertas é o preconceito com relação à profissão. “Algumas pessoas acham que ser DJ é só lazer. É só ir para as festas, beber e curtir. Há quem enxergue a atividade como uma área que não dá dinheiro e que não é profissional. Mas não é assim. É claro que é um trabalho mais descontraído, mas nem por isso deixa de ser trabalho, e com as mesmas responsabilidades do que qualquer outro”.

Segundo ele, a principal dica para quem está começando é consumir muita música diariamente, isso ajuda a compor um repertório legal, e desenvolver um estilo próprio de identidade musical. “Hoje, você tem que ser específico e atingir um determinado segmento, do contrário, não tem mercado. A concorrência é grande e atualmente com dois pendrives se faz uma festa”.

O DJ ainda recomenda evitar excessos para conseguir trocar o dia pela noite, como beber somente no fim da festa e minimizar o tempo que fica na noite. “Antigamente um mesmo DJ abria e fechava a casa, então ele ficava a festa toda e só saia quando todos os convidados já tinham ido embora. Hoje, os DJs tem hora certa para começar e terminar o evento, então, é aconselhável chegar uma meia hora antes e não demorar muito para ir embora para poder aguentar firme nas outras noites”.

Tecnologia a favor dos DJs

Com quase 20 anos de carreira, o DJ carioca Duda Santos é outro que aposta na House Music e suas vertentes, misturando electro, progressive house, tribal e tech house na busca do melhor som para elevar a vibe de qualquer pista ao máximo.

Logo no começo da carreira, Santos não encarava a profissão da mesma forma como encara hoje, só ao longo do tempo que decidiu ser DJ profissional. Na época em que entrou para o mercado, o único formato de mídia usado eram os discos em vinil, que na grande maioria das vezes eram importados. “Até hoje os melhores equipamentos para a atividade são importados e caros, mas a tecnologia trouxe facilidades e fez a atividade deixar de ser completamente artesanal. Com um laptop e uma placa de som já é possível começar a se aventurar”.

Segundo Santos, alguns profissionais defendem que a tecnologia banalizou a profissão, pois já não se precisa da enorme quantidade de horas de treino com vinil, que eram bem difíceis de manusear, para atuar como DJ.  “Isso abriu espaço para alguns ‘fake djs’, ou gente sem o menor talento, que só consegue trabalhar com a ajuda dos softwares. Eu ainda acredito que, mesmo com todo o recurso tecnológico, é com talento que se supera a concorrência”.

Outra mudança que a tecnologia trouxe foi o fomento do boca a boca. “Com o advento da internet a divulgação se tornou muito mais fácil. Hoje você publica na web um set, sequência de músicas de sua escolha, e começa o marketing viral. Um amigo gosta e manda para outro, que posta no facebook, que comenta no twitter e a coisa segue seu caminho. Para os que querem mesmo entrar no mercado é importante saber que o marketing pessoal é imprescindível para o sucesso na carreira de DJ”.

Assim como Puertas, Santos também reconhece que a atividade enfrenta preconceito e diz que ainda escuta frases como: “Você é DJ? Que legal. E trabalha com o que?. A maioria das pessoas não tem ideia da quantidade de horas de treino, pesquisa musical, organização de repertório e tantas outras demandas são necessárias ser dominadas por um profissional da área”. Para ele a apresentação em si é apenas 20% do trabalho, muita coisa acontece antes de subir no palco e tocar as músicas. Mas como a atividade envolve músicas e festas, existe a falsa ideia de que não é trabalho, é só divertimento.

Para assegurar sua performance, Santos investiu em vários cursos ao longo de sua carreira, que foram essenciais para se tornasse um DJ profissional e sugere para os iniciantes que pensam em atuar no circuito de boates, se qualificar para manusear os tipos de equipamentos que essas casas oferecem. Nesse ponto os cursos podem ajudar muito”. Ele também recomenda que o profissional esteja sempre atualizado. “O upgrade é necessário hoje em dia, pois sempre surgem novos equipamentos e é preciso acompanhar a evolução”.

Quando questionado sobre a situação do mercado da música ele afirma: “Alguns profissionais diriam que está ficando saturado, pois de um tempo pra cá todos resolveram se tornar DJs, de colegiais a ex-BBBs. Mas eu acredito que só quem tem talento e amor à profissão sobrevive nesse mercado”.

Colaboraram:
DJ Filippo, (21) 2226-3021, www.filippodj.com.br; DJ Matheus Puertas, (21) 7675-7307, facebook: Matheus Puertas e DJ Duda Santos, http://djdudasantos.blogspot.com.

Revista Meu Próprio Negócio - Edição 111 - Pág. 60
Maio / 2012

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